Para o arquiteto e urbanista, a proposta da Prefeitura de Porto Alegre, ainda que carregue o nome, não deve mitigar o congestionamento, já que não está relacionada a horários e vias específicas.
“A tarifa de congestionamento é uma importante ferramenta de gestão do espaço viário, não necessariamente para arrecadação, mas para melhorar sua eficiência.
Congestionamento resulta de vários motoristas usando a mesma via ao mesmo tempo. A tarifa, para ter sucesso, deve mitigar este comportamento, incentivando a mudança do padrão de viagens ao longo do dia. O IPVA, por exemplo, não tem esse efeito: se o carro fica na garagem, paga igual.
A proposta da Prefeitura de Porto Alegre, embora carregue o nome, não deve mitigar o congestionamento pois não está relacionada a horários e vias específicas, como é o caso de Londres, Estocolmo, Milão e Nova York, citadas na proposta. Ela taxará os 25 mil veículos de aplicativos e os 75 mil veículos que entram na cidade a partir da Região Metropolitana (RM). Números grandes, mas uma fração dos 610 mil carros da capital que continuarão fazendo mau uso das vias.
Singapura, com a tarifa de congestionamento mais evoluída do mundo, cobra de todos via portais eletrônicos espalhados pela cidade, com preços que variam de acordo com horário e local. Lá as faixas de ônibus se tornam irrelevantes dado que o trânsito sempre flui. Como consequência, a arrecadação também é mais justa, pois carros ocupam espaço na rua independente se são de aplicativo ou se são ou não da cidade.
Nossa política habitacional restritiva e excludente levou o crescimento da RM por necessidade, não por opção, e a taxa focada nesse grupo é mais um golpe restringindo o acesso à capital gaúcha. Ao contrário: faltam alternativas para quem mora em regiões periféricas, pois sua natureza de baixa densidade não viabiliza o transporte de massa.
Vans compartilhadas de menor capacidade, de baixo custo e maior capilaridade deveriam ser legalizadas, mitigando não só o uso do carro mas também das motos, hoje a maior concorrente dos ônibus e que levam a um número assustador de fatalidades.
É assim, com um universo mais amplo de alternativas, que também se viabiliza uma tarifa de congestionamento de verdade, mais justa e mais eficiente.”
Fontes: Jornal Zero Hora e site Caos Planejado