Todos os cenários para 2018 indicam uma lenta recuperação da economia e incertezas políticas. São perspectivas que afetam o mundo empresarial, mas que dependem pouco desse. O principal protagonista de 2018 vai ser o trabalhador por conta própria, na maioria com exercício informal.
O mercado de trabalho foi organizado segundo forte dependência das contratações por parte das empresas, por parte do empregador. Toda uma legislação foi estabelecida para proteger o empregado depois de contratado pelo empregador. Tanto durante o contrato de trabalho, como após o seu desligamento. Mas a legislação não obriga o empresário a contratar, tampouco protege o não empregado, isto é, o que não é contratado pelo regime da CLT.
Mas o entendimento predominante das autoridades trabalhistas é que só existe um regime de contratação: o da CLT. Qualquer outra forma seria uma fraude ou fuga da legislação e estaria sujeita a ser enquadrada como um contrato celetista. Em torno disso montou-se toda uma cadeia produtiva, com advogados incentivando os trabalhadores a ingressar com reclamações trabalhistas. Os empresários tinham receio de contratar. Tanto pela CLT, em função dos encargos e dos riscos, assim como informalmente, pelos riscos.
Com a reforma trabalhista, haverá um aumento de trabalho. Com grande parte que poderá ser considerada como precária. Com remuneração nominal igual ou até superior ao do celetista, mas sem os benefícios e provisões como férias, 13º salário, FGTS e outros. Mas tanto contratante como contratado estarão mais preocupados com o fluxo de caixa. Isto é, com o pagamento e o recebimento imediato. Recebendo em dinheiro, os contratados também irão gastar logo. O circuito financeiro será mais curto, mais ágil e se refletirá mais rapidamente no consumo. E o aumento do consumo das famílias puxará o resto da economia.
Num primeiro momento, acelerará o crescimento da economia. A dúvida é se será sustentável. Ou seja, o principal motor do crescimento da economia em 2018 será o trabalho informal. Como esse modelo de crescimento econômico, com características diferenciadas em relação aos anteriores, irá afetar o negócio dos estacionamentos pagos? Esses trabalhadores por conta própria terão renda suficiente para adquirir o seu carro e ainda pagar os estacionamentos? Preferirá usar o transporte coletivo ou os serviços de chamada, do tipo Uber ou 99?
Uma das principais características dessa nova classe de trabalhadores é que não terá emprego fixo, um único empregador e um único local de trabalho. A multiplicidade de locais de trabalho fará com que ele precise ter e usar um carro próprio, para se movimentar entre os diversos locais de trabalho. Usar um aplicativo de chamada daria maior flexibilidade, porém sujeito às variações da demanda e com custos maiores. O transporte coletivo seria uma solução, desde que os locais ficassem todos perto de estações de metrô, de trem ou de ônibus em corredores. Esse trabalhador precisa de carro e estacionamento. Mas a sua primeira opção seria o estacionamento na rua, sem pagamento ou com pagamento em zona azul: que, no geral, é mais barato que o estacionamento privado pago.
Quem iria para os estacionamentos pagos?
Aqueles com maior rendimento. Em geral são autônomos ou MEI. A velocidade maior de crescimento do trabalho por conta própria, comparativamente ao celetista na recuperação do mercado de trabalho, já vem sendo retratada pelos levantamentos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua. Já a identificação da maior ou menor presença desse cliente será refletida em eventuais variações do perfil de demanda dos avulsos, comparativamente à dos mensalistas e diaristas. A perspectiva é de maior rotatividade.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.