Com uma frota de 48 milhões de automóveis, o Brasil possui apenas três mil veículos elétricos em circulação, ou 0,04% do total. Em tempos de alta no combustível e de busca pela sustentabilidade através da redução na emissão de poluentes, esses dados espantam, mas a explicação é simples. Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Guggisberg, “sem incentivos do Governo, os veículos elétricos (VEs) chegam a custar até 10 vezes mais que um modelo com motor a combustão. Embora o preço pareça alto, a economia compensa”, garante ele, pois “o custo de rodagem desses é um quarto em comparação ao dos modelos que rodam com etanol”.
A ABVE é uma associação civil de direito privado sem fins econômicos, com a missão de promover a ampla utilização de veículos elétricos no país, para tornar o transporte de pessoas e cargas mais limpo e eficiente, em benefício do bem-estar da população, do meio ambiente e do conjunto dos seus associados. Atualmente, a entidade representa mais de 100 associados, entre empresas, consultores e profissionais do setor de veículos elétricos no Brasil. Atua junto às autoridades governamentais e entidades empresariais relacionadas ao setor automotivo, visando à tomada de decisões que incentivem o desenvolvimento e o uso de veículos elétricos.
Projeções
No Brasil, os veículos elétricos têm isenção de IPVA em sete estados – Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Sul – e alíquota diferenciada em São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. Porém, os altos impostos, a dependência de peças importadas e a falta de estrutura para recarga são alguns dos entraves para a produção de elétricos no país. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), por exemplo, é de 7% para veículos comuns e 25% para os carros elétricos, o que desestimula o setor. Além disso, o tímido número de 50 eletropostos (postos de recarga de VEs) espalhados pelo país dificulta a popularização dos carros não poluentes.
Uma pesquisa do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) questionou a ausência de carros elétricos em larga escala no Brasil e citou previsões que afirmam que em 2030, metade da frota mundial de veículos será de carros elétricos. Segundo o estudo, 500 mil elétricos devem estar em circulação no Brasil em 2020. Se o país não acompanhar a modernização do setor automobilístico, oferecendo infraestrutura de recarga e redução das altas taxas, a maior potência da América Latina ficará cada vez mais longe da vanguarda tecnológica, além de perder a oportunidade de participação econômica em um mercado internacional em franco crescimento.
Pioneiros no Brasil
Os VEs no Brasil são destinados quase que exclusivamente a empresas. A Renault, por exemplo, vendeu 70 carros elétricos para FedEx e Natura, além de órgãos governamentais. Parte da frota dos Correios é composta pelo Kangoo Z.E., enquanto a Prefeitura de Curitiba (PR) usa os compactos Zoe e Twizy. Em iniciativa que acompanha a da Fiat, com a produção de carro elétrico em Itaipu, a Renault assinou parceria para iniciar a produzir do Twizy no mesmo local.
A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), distribuidora de energia, começou em outubro de 2014 a segunda etapa do Programa de Mobilidade Elétrica, que vai ampliar de seis para 27 veículos elétricos e de quatro para 25 unidades de eletropostos em Campinas (SP) até o final de 2015, tornando a cidade o principal centro de mobilidade elétrica do País. “Com este projeto, almejamos desenvolver e qualificar a CPFL e o setor elétrico brasileiro para os impactos da expansão da mobilidade elétrica e para que possamos atuar de forma pioneira em novos negócios no momento em que os veículos elétricos se tornarem uma realidade”, afirmou o diretor de Estratégia e Inovação do grupo, Rafael Lazzaretti. Os pontos de recarregamento serão instalados em locais públicos e de fácil acesso, como shopping centers, postos de serviços, prefeitura e locadoras de carros. Dois pontos serão colocados fora de Campinas, um em Jundiaí e outro em São Paulo.
Prepare-se desde já
Assim como em Campinas, os parcos investimentos que estão sendo feitos para ampliar o uso de VEs visam beneficiar áreas públicas. Por isso, desde já os estacionamentos privados devem começar a se preparar para receber os elétricos em um futuro próximo. Um empreendimento que possua os carregadores larga na frente, acompanhando a tendência mundial das cidades verdes. Instalar carregadores é um diferencial que valoriza o empreendimento e uma atitude comum nos países de economia de ponta. Segundo a ABVE, são apenas três desenvolvedores de carregadores elétricos que atuam no Brasil: Schneider-Electric, Efacec, BYD. Existem os carregadores lentos (que podem levar entre 30 minutos e seis horas para completar a carga, dependendo do modelo) e os rápidos (que carregam em cerca de 10 minutos).
Governo arquivou projetos
Em janeiro, o Senado arquivou três projetos para subsidiar veículos elétricos. Entre os projetos, que tramitavam na casa desde 2009, um deles previa a isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) aos veículos de passageiros e mistos movidos a tração elétrica. Em 2014, o Governo reduziu o IPI para carros híbridos, mas não alterou a taxação dos elétricos.
Os elétricos pelo mundo
A escolha do Governo brasileiro de incentivar os veículos a combustão em detrimento dos elétricos parece estar na contramão das grandes potências mundiais. Conforme a ABVE, sete milhões de veículos elétricos – leves e pesados – circulavam no mundo em 2014.
EUA: com 4% da frota formada por veículos elétricos e com investimentos do Governo e das grandes empresas, possui nove mil estações de recarga de veículos elétricos, com quase 23 mil carregadores.
Japão: é o maior mercado mundial de VEs, com 11% da frota movida a eletricidade. Há 40 mil pontos de recarga em todo o território, incluindo casas particulares. Os pontos superam os 34 mil postos de combustível existentes no país.
Alemanha: possui um programa de incentivo que prevê um milhão de veículos elétricos nas ruas até 2020. Para isso, postes de iluminação devem virar estações de recarga ainda este ano, além dos postos públicos já existentes em todo o país.
Holanda: cerca de 200 postos de recarga rápida, capazes de recarregar um veículo em 30 minutos, estão sendo instalados em todas as autoestradas do país, a uma distância máxima de 50 km uns dos outros.
Noruega: com 32 mil veículos elétricos em circulação, o país oferece muitos incentivos, como trânsito livre nas vias exclusivas para ônibus, isenção de impostos e de pedágio urbano, estacionamento gratuito e recargas sem custo.
França: na Grande Paris, há 900 estações de carros compartilhados, operando com três mil veículos elétricos e mais de 75 mil usuários cadastrados, realizando uma média de 15 mil viagens por dia.
Matéria publicada na Revista Parking Brasil – edição 22. A revista completa pode ser baixada gratuitamente aqui: http://www.abrapark.com.br/revista/22.pdf